Publicado inicialmente em 28/10/2022 no LinkedIn
Um novo caminho começou pela saída. Minha empresa foi adquirida após 77 longos meses de muito trabalho. Passei cada um deles dando o meu melhor, ou pelo menos assim eu pensava. Mas assim que o fim desse ciclo foi selado, comecei a me perguntar para onde iria em seguida. Tão cedo? Nem mesmo tirei um tempo para descansar. Não pude evitar. Costumo viver no futuro, mas para definir onde o meu estava indo, comecei a olhar para trás.
As pessoas começaram a me dizer que agora eu era um empreendedor bem-sucedido, já que poucos de nós costumam completar a corrida, cruzar a linha de chegada. Mas voltei às minhas ambições quando comecei, e elas eram enormes. Sou um grande sonhador, e isso é uma virtude necessária. É preciso ser um para se tornar um empreendedor, mas isso também é um pecado, pois quando comparei meus sonhos com a realidade, tudo o que vi foi fracasso. Eu não conseguia falar com orgulho sobre esse resultado incrível, eu sentia vergonha.
Logo reconheci o quão difícil foi a jornada, quão sortudos fomos por termos alcançado o que fizemos e toda a ajuda que tivemos para fazê-lo, tornei-me grato. Essa é outra característica comum dos empreendedores, que alimenta um hábito de retribuir, transformando nosso ecossistema em um círculo virtuoso. Então comecei, ajudando outros. Muitos me procuraram pela minha experiência e me fizeram ver que poderia ser valiosa para eles. Falei sobre meus erros, meus fracassos. “Eu não iria por aí, há um caminho mais fácil”.
Eu já tinha ouvido isso muitas vezes antes, mas não tinha escutado. Se as pessoas me diziam que algo era impossível, isso apenas alimentava minha vontade de provar que estavam erradas. E uma vez após a outra, eu provava. Acontece que o que não era impossível era muito difícil. Se eu tivesse tomado um caminho mais fácil, se tivesse escutado, a trilha não teria sido tão íngreme e rochosa. E o sucesso teria uma aparência muito diferente. Então, fiz questão de compartilhar esse aprendizado também.
Dói, olhar para tudo isso e contar aos meus colegas. No entanto, a dor não é a de cortar a carne de novo, mas sim a de limpar as feridas. E ao fazer isso, deixo que se tornem cicatrizes. Agora, esse processo transformou minha dor em algo valioso para essas pessoas. Ajudou-os a evitar algumas das cicatrizes, como se eu tivesse aberto os caminhos para eles e me arranhado para que eles não precisassem. O que me envergonhava, como lixo, estava lentamente se tornando um tesouro.
Por fim, consegui ver que, se era valioso para os outros que seguiam o caminho do empreendedorismo, poderia valer muito mais para mim, se eu decidisse seguir esse mesmo caminho novamente. E assim o fiz, mas isso é assunto para outro artigo.
O fracasso pode levar à vergonha, pode ser visto como algo sem valor e descartável. Mas se o transformarmos em um meio de aprendizado, ali está o tesouro, o mapa do sucesso. Essa lição se tornou parte da cultura da empresa que eu começaria a seguir, a Pannacotta. Uma virtude que chamamos de Falhar para Frente, e que cultivamos e elogiamos.